#2 a lição do aspirador
mãedfulness de trazer por casa
Tenho um aspirador novo. É mais eficaz do que o anterior, é um pouco maior mas mais leve e permite aspirar melhor com menos força e menos potência. É muito silencioso.
E o meu cérebro engana-me com o aspirador como com tantas situações e pessoas e desafios da minha vida: não acredito que em silêncio e sem se dar por ele, faça o que tem a fazer. Uso a potência máxima para ter a certeza que esta a trabalhar quando faria eficazmente o seu trabalho sem precisar de gastar tanta energia. Mas as minhas crenças sobre “mostrar trabalho” e show off atrapalham-me no julgamento certo do seu desempenho tranquilo e discreto.
Quantos colaboradores das nossas equipas não são ótimos no que fazem só não se sabem tornar “visíveis” e são por isso menos recompensados?
Quantas das nossas crianças passam despercebidas nos seus talentos e capacidade na escola, porque a sua energia é serena e introvertida?
Quanta rapidez a colocarmos rótulos de tímido, envergonhado, antipatico ou até “mal-educado” quando outros seriam bem mais capacitadores e até verdadeiros: observadores, pensadores, discretos?
Quanto trabalho que não merece alarido, que não se mostra em grandes ordenados, prémios ou ruído exterior, é do mais elementar e necessário manter e realizar? (Como aspirar a casa todos os dias por exemplo😉).
Mas há outra lição bonita que aprendi com este aspirador-guru: e que tem a ver com a força que continuo a exercer para aspirar, o meu braço, mão, todo o meu corpo moldado à força que o outro, de gama inferior, me obrigava a fazer. o esforço tão entranhado na nossa maneira de ser e fazer. Estou melhor cada dia : a ir mais leve na tarefa de aspirar.
Há muitas situações em que nos devemos lembrar disto, à medida que crescemos, à medida que a vida, as circunstâncias ou nós próprios mudamos (ou porque arranjámos ferramentas melhores- seja para a lida da casa, das nossas relações ou do nosso espírito!) e ainda assim não largamos a maneira antiga de ser ou fazer: a custo, com muito esforço, de forma que nos leva demasiada energia. Ou a recorrer à força quando a leveza é a melhor resposta.
Isso pode ter-nos servido, claro, em algum momento. Pode ter sido mesmo muito importante e necessário. Pode ter sido o que nos fez sobreviver: força, resiliência, tenacidade. Mas que nos seja possível ouvir , em algum recanto da nossa consciência, nessas outras etapas da vida: “hey, já não é preciso esse esforço todo. É mais eficaz se fores gentil. Dá para fazer com mais leveza. Permite-te a fazer sem dar demais. Não perdes valor por isso. Pelo contrário - sobra mais para dares de outra forma. Celebra, sem culpa, o facto de agora na tua vida existir um aspirador melhor.”♥︎