Aqui há dias, uma amiga comentava como fomos felizes e inconsequentes sem as redes sociais a policiar os nossos dias de juventude e como fomos mais livres para cometer algumas loucuras, sem o perigo de uma câmara registadora eterna de factos comprometedores na mão de toda a gente, a toda a hora. Houve excessos, dizia ela. Éramos um pouco tontos, sem noção as vezes. E eu acho que o que o mundo precisa é, como dizia Jobs, de mais gente um pouco louca , apaixonada e sem medo. Disposta a viver a vida com tudo a que temos direito, sem ser pela metade.
Nos dias que correm, trocamos o peito aberto e o coração a bater descompassado , pelos ombros encolhidos e a bradicardia segura. Nada de arrepios na pele, gestos tresloucados ou alegria desmedida.
Nos dias de correm, chama-se bom senso ao jogo de cintura, chama se “paz” a dizer sim a tudo [ ou pelo menos a dizer sim ao politicamente correto ].
Confunde-se emoção, paixão , garra e entusiasmo com falta de calma e seriedade “a mais”! Confunde-se a defesa de uma posição com extremismo. Ter ideias próprias, refletir ou levantar questões é ser revolucionário.
Só uma sociedade destas aceitaria o que está a aceitar, de há dois anos para cá. Uma sociedade cabisbaixa e cinzenta, sem brilho nos olhos e mal amada.
Somos muitos a falar nos espaços públicos - supostamente livres e independentes- que as redes sociais criaram mas são muitos mais a não emitir uma opinião ou pensamento , muito menos que contradiga quem manda, ou levante ondas e apenas a ver, a coscuvilhar e a talvez às vezes a criticar quem o faz. Calados e de olhos submissos para que a vidinha não lhes seja alterada.
Presumo que não dançam há décadas [ alguma vez dançaram?] , não cantam no banho, não gritam de prazer [ farão sequer amor?] , não podem apanhar um pingo de chuva, não andam descalços, não têm sonhos.
Muitas destas pessoas são pais, de crianças pequenas ou adolescentes. E estão muito “preocupados” com eles. Com a sua saúde , mas também com as suas notas , os seus tpc e as medalhas no desporto ou na música. ensinam-lhes a submissão, o cinismo, e a futilidade de não ter ideias próprias e estão pouco interessados em saber quem os filhos são de verdade.
E não conseguem perceber que a sua ansiedade é a deles. Que os estragam mais depressa do que os “formam”. Que crianças criadas assim nunca nunca, tenham o que tiverem, vão conseguir ser felizes. E talvez seja isso, no fundo, que querem: que não afrontem a sua senda do conformismo e da infelicidade. Fracassarão , infelizmente, apenas alguns.
Neste 22 de abril de boa memória, um brinde aos filhos revolucionários, portanto. E aos miúdos meio loucos, apaixonados e inconsequentes, mas corajosos e livres, que alguns de nós, pelo menos, em algum momento da vida, fomos. ♥︎⌁| #liberdade #doladocertodavida #selflove
um brinde a nós, que temos crianças desabridas, de peito aberto e alma livre. A nós que sabemos distinguir o que é um pássaro numa gaiola dourada, do que é um pássaro em liberdade. Um brinde, Mariana.