Quando entramos num conflito, numa discussão, num diferencial de pontos de vista, quando as nossas crianças nos fazem pedidos e nos levam a ter de tomar decisões que envolvem valores, crenças e limites pessoais ou sociais costumamos dizer que a nossa vida complica.
Os terríveis dois anos, os treenagers e depois os verdadeiros teenagers, a pré-adolescência, os filhos difíceis, as crianças desafiadoras -enfim!- na verdade, tudo tem a ver com a nossa própria indecisão sobre o que importa, ou vale mais, a cada momento, com a nossa própria falta de maturidade, indefinição e incapacidade de estar presente, focado e bem resolvido. E tudo certo, com isto!🙌🏼 Somos humanos, dos bons: dos que querem crescer toda a vida, dos que se colocam em causa, dos que se questionam mudam de opinião e por isso são mais autênticos, se deixam influenciar e não precisam de um falso pedestal de autoritarismo para se sentir bem. A esses, quando em lugares de liderança( que é o que assumimos enquanto pais), em empresas ou governos, costumamos chamar ditadores e com falta de inteligência emocional.😉
O nosso estado emocional, mental, a nossa serenidade, no entanto, pode ser a chave para lidar com todos estes “baixos”, deste jogo de longo curso que é a parentalidade e a educação.
E o segredo reside em aceitar alguns pontos importantes:
aceitar que é normal ter dúvidas, oscilar entre dizer sim ou não, e permitirmos a negociação, a conversa.
aceitar que é normal termos visões do mundo diferentes dos nossos filhos e, com a consciência que decidimos o que o coração nos diz ser o melhor para eles, firmar a nossa posição.
também é normal não ter logo a resposta pronta a dar, estar com a cabeça noutro lugar e não termos de decidir ou dar uma resposta no momento em que eles a estão a pedir.
Tudo isto exige apenas que tenhamos um alinhamento interno com o momento presente e com quem somos e como estamos, naquele momento.
Não exige que neguemos nenhuma parte de nós, que sejamos perfeitos ou intocáveis, que tomemos sempre boas decisões à primeira, que mostremos só uma parte de nós ou não possamos ser sinceros e verdadeiros com os nossos filhos. Aliás, exige o oposto disto.
Exige apenas consciência, muita autoestima e compaixão, por nós e pelos outros. Exige uma mente limpa de histórias do passado e do futuro, um olhar de aceitação para o que é, porque lutar contra a realidade é o primeiro passo para entrarmos em resistência e sairmos pelos caminhos errados.
Exige paciência connosco próprios, com eles e com a situação, que não necessitemos de arrumar o assunto para estar em paz mas sim estar em paz no decorrer da resolução do assuntos (porque a vida é, na verdade, um constante decorrer de assuntos por resolver!😓).
Quando conseguimos este alinhamento interior, mesmo que tenhamos que sustentar uma troca mais dura de argumentos ou atitudes, não estamos em esforço. Estamos num processo que não é mau nem é bom, é o que é, faz parte da relação entre pais e filhos, seja quais forem as suas idades, faz parte da vida, de educar um ser humano.
E compete-nos, como pais, professores, educadores, ser o jogador mais experiente em campo, compete-nos ter mais técnica, habilidade e sofisticação na forma como conduzimos o “encontro”. Porque, mesmo quando parece que estamos aos encontrões, é sempre de um encontro que se trata. Quando temos isto presente, a oposição de interesses ou desejos, o momento de tensão ou desafio nunca escala para um conflito - a guerra terminou mesmo antes de ter começado.