Hoje de manhã, enquanto aspirava o chão de casa, lembrei-me da nossa primeira casa, o apartamento do Porto, tão novo e cheio de possibilidades como a vida, inaugurado em pompa e circunstância com os amigos, direito a visita guiada e explicação pedante para quem a dava e trágica para quem ouvia, de cada escolha de material, de cada pormenor decorativo.😓😉
-Gosto deste chão de afizélia - dizia eu à minha amiga Ana - a única coisa que tem é que se nota qualquer sujidade, pó ou migalha!
E respondia-me ela, a sorrir, a tua felicidade é a nossa:
- Também não queres viver com o chão sujo e não saber, certo?
Era certo, sim.
Passaram quase vinte anos por este episódio e por nós.Esta casa antiga tem o chão clarinho, pinho simples, numa tentativa de irmos à sua origem e lhe preservar a identidade, e conter os custos desnecessários - humildade e descontração ganham-se na vida, quando se ganha maturidade, acho eu.😉
Não se nota tanto a sujidade, confirma. Mas ela está lá. Há sempre lixo decorrente da nossa vida de todos os dias. Como lidamos com isso, realmente, é que faz a diferença. E não estou a falar só do chão da cozinha.😉
Em que piso assenta a nossa vida interior? No que esconde ou no que mostra? Como lidamos com o lixo que sobra dos nossos dias e se aloja no nosso coração-assoalhada seja ele feito de que fibra for?
Teremos facilidade em ver o que é para deitar fora e ainda assim preguiça de limpar? Ou será que precisamos de implementar uma rotina de limpar regularmente, porque temos tendência para achar que está sempre tudo bem na casa-abrigo da nossa alma?
Afizélia ou pinho, por aí? 🧐🧹
Afizélia querida Mariana, Afizélia!
Cada vez mais!
Uma incrível metáfora esta, que trouxeste aqui nesta carta, cheia de sabedoria, vulnerabilidade e humor refinado… que, para mim, demonstram bem o quanto já percorreste neste caminho que é a vida❤️ acabo de me lembrar de uma possível metáfora para dizer por outras palavras aquilo que escreveste: as nossas fotografias antigas (de quando éramos crianças, adolescentes, ou até, adultos um pouco mais jovens) mostram-nos parecidos ao que somos hoje, mostram-nos a nossa própria consistência e também nos mostram quanto mudamos, quanto já percorremos, quanto já perdemos e ganhamos…(escrito pela Michelle Obama num dos seus livros)😉
Um beijinho para ti e continua a escrever tal como só tu sabes (p.s.: sinto sempre nas tuas palavras como que um carimbo teu, uma prova irrefutável de que foi a Mariana Bacelar que escreveu😊 parabéns por isso😘😘💪💪💫💫)