“Sabes, querida Helena
Tenho saudades de ter um domingo à tarde só para mim, para o passar a ver filmes que me fazem chorar, enroscada no sofá.
Tenho saudades de uma manhã de sábado entregue à Zara. Tenho saudades de ir ao cinema.
Tenho saudades de ir jantar fora só com o teu pai ou com as minhas amigas.
Tenho saudades de beber um copo de tinto, ou dois, uma sangria fresquinha. Tenho saudades de ir ao ginásio.
Tenho saudades de sair de manhã e voltar à noite. Tenho saudades de apanhar um avião para passar um fim de semana a namorar.
Tenho saudades de ter o meu lado da cama só para mim.Tenho saudades de dormir até às dez.
Tenho saudades de não ter horas para nada.Tenho saudades de ter a casa em silêncio, ou só com a playlist do dia, baixinho, enquanto escrevo ou leio.
Tenho saudades de ser só eu.
E sei que foi escolha minha ter filhos. Sei que é escolha minha amamentar. Sei que é escolha minha estar em casa contigo.
É escolha minha viver longe dos vossos avós. É escolha minha ser a mãe que sou, com as consequências da minha escolha.
E também sei que, com o tempo e com a minha vontade, aquelas coisas vão voltar, mais cedo ou mais tarde.
E sei que não falta muito para sentir saudades de tudo o que tenho agora – quando forem dez da noite e a casa estiver vazia e em silêncio. Eu e a playlist do dia e talvez um copo de tinto saboreado com o teu pai e todo o tempo do mundo.
E talvez aí sinta saudades das tardes de domingo desarrumadas e barulhentas, e nem consiga imaginar-me a perder uma hora sequer na zara.
Talvez aí sinta saudades de jogar yatzy com o teu irmão e das suas fitas para tomar banho, talvez tenha saudades dos bolos – e da bagunça – feitos a quatro mãos, e dos nossos almoços a duas, no silencio da cozinha ensolarada.
Vou ter saudades de te dar de mamar, e das viagens pela imaginação prodigiosa do teu mano ou de embarcarmos em histórias mágicas, ao deitar.
Vou ter saudades de te embalar, de te dar colo até me doerem os músculos.
Vou ter saudades de vos ter aos dois no nosso meio, de dormir agarradinhos num sono torto mas seguro de quem tem tudo que precisa.
Vou ter saudades dos dias cheios e, mesmo que possa, não vou querer acordar tarde.
Mas tenho a certeza que estas memórias que agora construímos me trarão um sorriso e a força para, nessa altura, ser mais só e, ainda assim, plena.
E tenho a certeza que, nessa altura, como agora, agradeço por ter podido ver-te crescer; por, apesar de todo o cansaço e de tudo de que tenho saudades, durante estes anos tão importantes,
não ter saído de manhã e entrado à noite.
um beijo, da Mãe.” ♡
[escrito em 2017, mãe há seis anos , de dois há dez meses, a tempo inteiro em casa há três anos]
Obrigado meninos, a vossa super-mãe escreve lindamente e não a estaria a ler se não fossem vcs 🍀.