“Gostavas mais de mim, se eu obedecesse às tuas ordens?”
as minhas dificuldades com o amor incondicional
Foi assim mesmo, com esta escolha acutilante de palavras, que aquela* minha manhã começou. Lembro-me como se fosse hoje, ele no banquinho de madeira para chegar ao lavatório, as rotinas de todos os dias , eu ao seu lado, entre os dentes lavados e o cabelo (des)penteado ao seu jeito, os nossos dois rostos de mãe e filho no reflexo do espelho. Ele a devolver-me, num ricochete descarado o meu lugar no caminho de uma Parentalidade mais consciente.
A fazer-me entender que este caminho em que me tento livrar dos "ses", dos castigos, dos elogios ao "bom comportamento", das recompensas, dos raspanetes, das ameaças, é um processo, cheio de avanços e recuos.
É um caminho de "desaprender", de "desacreditar", de questionar e de seguir o coração, silenciado as vozes críticas do julgamento, e também de construir, de tentar, de pôr em prática e aumentar a minha consciência em cada momento, mesmo que ainda muito “a toa”.
"Gostavas mais de mim se eu obedecesse às tuas ordens?"
E lá fui eu, do meu pedestal de “mae-maravilha” pelas ribanceiras das dúvidas e da humildade, aos trambolhões, mais uma vez.
Será que o todo o Amor é incondicional? Será que conseguimos amar alguém sem condição? Sem expectativas? Sem cobrar o amor que damos?
E será que mesmo que o sintamos, conseguimos demonstra-lo, no dia a dia , nas coisas pequenas e inconscientes que se marcam para sempre em quem somos e os nossos filhos são?
A parte que me sossegou e me fez ver o caminho já feito com um sorriso é ele não ter guardado [na gaveta dos sentimentos impossíveis de sentir, que tanta mossa nos fazem!] a pergunta e a ter verbalizado, sem medo da resposta - será que muitos de nós fomos educados na certeza que a resposta certa era sim, nem valia a pena perguntar? E que consequências isso teve nos adultos que somos? Mas relações que procuramos e mantemos? Nos percursos profissionais e escolhas de vida nos condicionaram?
A parte que me inquietou foi a do caminho “por fazer”, que o levou a duvidar. Mas hoje sei que mais vale aceitar que nunca estará feita, resolvida, sanada: somos seres humanos a crescer uns com os outros, mesmo - ou ainda mais - quando somos mãe e filho. Que saibamos amar-nos, sempre que possível incondicionalmente, nesta nossa imperfeita humanidade.\ ♥︎
Com muito mãedfulness,
Mariana