Outro dia , uma amiga, respondia-me a um argumento sobre maternidade, dizendo, e bem: “também há vida para além dos filhos”. Fez-me pensar que, muitas vezes, as ideias que defendo, aquilo em que acredito sobre a parentalidade se confundem com opções de vida ou escolhas concretas de como vivermos o dia a dia, como família.
É verdade (não sou eu que digo é a ciência😉, mas todos o intuímos, verdade?) que as crianças precisam de figuras de vínculo, de apego, pessoas que as queiram, que a elas se conectem de forma amorosa. As crianças precisam - tanto quanto de ser alimentadas e mantidas em segurança física - de segurança emocional e conforto psicológico. Mas não digo que isto tem de acontecer única e exclusivamente através da mãe.
Há um conceito muito bonito (e muito verdadeiro, basta recuarmos uma ou duas gerações!) sobre o qual a cientista Alison Gopnik (que escreveu dois dos livros mais bonitos sobre crianças e infância, que já li!) fala bastante - a alomaternidade: a característica social humana do cuidado partilhado, da vivência, também da maternidade, numa pequena mas significativa comunidade que se ampara e ajuda mutuamente, sobretudo em momentos de necessidade e muito trabalho, como quando do nascimento de uma criança.
Nos dias que correm, o núcleo estreitou, toda a gente o sente e muitos de nós, nem a família próxima tem ao seu lado, quando decidimos ter filhos. Obviamente que os cuidadores dedicados que estejam presentes para a criança (nem será preciso mencionar o pai, mas avós, tios) quando a mãe quer ou precisa de se ausentar, nunca são uma substituição inferior ou menor; podem, inclusivamente, ser uma dádiva para a criança - porque se descobre amada por muitos adultos queridos, porque uma avó disponível, um pai dedicado servem melhor os interesses de um bebé do que uma mãe exausta ou ansiosa.
Ontem deparei-me com esta passagem do livro que estou a ler agora:
“(o amor maternal)foi imediato para mim. nas primeiras semanas depois de termos dado a luz, ha um sentimento mágico no ar que é criado por um ser humano que veio de nós. sei que não é assim com todas as pessoas, mas foi assim para mim: imediato, incondicional e tão visceral quanto uma coisa física.”
E, embora partilhe deste sentimento (acho até que é das descrições mais reais e fieis ao que senti quando os meus filhos nasceram) acho, também, que é só o começo. A regulação mútua entre mãe e bebé, esse crescer juntos, que uma mãe e seu bebé experienciam, com todas as dificuldades, dúvidas, emoções e superações, é uma coisa maravilhosa de acontecer entre quem nasceu e quem deu à luz, é único.
Mas um bebé que fique ao cuidado de alguém que o ame e tenha disponibilidade para ele nunca estará mal - pode ter saudades da mãe, sentir a sua falta, mas está a crescer e a lidar com tudo, envolvido por amor e carinho.
Que possa haver opções, dentro das limitações que temos na vida atual, que nos sirvam, que sirvam o melhor interesse de bebés e das suas mães, isso é o que advogo. E porque vivi, na primeira pessoa, essa obrigação tácita, de ter de deixar o meu filho, aos seis meses, numa creche, com pessoas desconhecidas, pendo , talvez, para o lado da defesa do tempo com a mãe. Mas quem diz mãe, também diz pai, claro, ou família próxima, esteja ela disponível e próxima.
Que a mãe possa partilhar os cuidados ao seu bebé, sem culpa e com vontade, com as pessoas em quem mais confia e ama, parece-me maravilhoso. O que me parece errado é ser uma imposição da sociedade deixar de amamentar, por exemplo, ou não poder cuidar do seu filho a tempo inteiro. O que defendo é que fazê-lo (ou não) sejam opções livres e tranquilas e que o bebé esteja protegido, num ambiente familiar, de ternura e amor, com as suas necessidades físicas, fisiologias e emocionais a serem valorizadas, vistas e atendidas, algo que, com bebés e crianças pequeninas, só se consegue praticamente no rácio um para um.
Uma mãe não é insubstituível e um filho não tem de ocupar 24 horas do dia da sua mãe (ou pai) - há muitas outras formas do cuidado à infância acontecer de forma saudável e amorosa. Deixar os nossos bebés e crianças dias inteiros em creches e infantários, não é uma delas.
Porque os filhos não têm de nos ocupar os dias todos, mas precisam, disso não tenho dúvidas, de ficar com melhor dos nossos dias.
com muito mãedfulness,
mariana