No meu tempo, à porta do liceu, havia algazarra própria das chegadas e despedidas, risos e barulho próprios de uma adolescência sempre de passagem para algum lado, a combinar coisas para depois. Íamos almoçar a casa, à tarde juntavamo-nos para estudar. Nuns pontos estratégicos ao longo do muro, meio escondidos pelas árvores, havia casais de namorados em beijos intermináveis, enrolados com pouca decência e muita vontade de deixar o prazer e o amor inundar os sentidos.
Não era bem visto, os professores não gostavam. Os pais que nem soubessem! Mas a escola é feita de e para adolescentes e como se vive a juventude diz muito sobre que adultos vamos ser.
Nós estávamos muito “em movimento”, eu acho, a ir de um sítio para o outro ou então entregues “ao momento”, de corpo e alma.😉
Se os doces dezasseis não trazem olhos brilhantes, desejo e busca de recompensa, atrevimento e exploração, nunca mais teremos um vislumbre disso pela vida fora.
Talvez os professores e pais de hoje em dia estejam mais satisfeitos:
Quando passo em frente aos portões do meu liceu, agora, não há beijos tórridos ou primeiros amores a ser descobertos. Só há miúdos a fumar, muitos. Muitos miúdos e muitos cigarros. Muito preocupante, eu acho. 😔
Também os ouço a dizer palavrões e a falar alto de sexo e de violência, a propósito das séries do momento na Netflix ou dos jogos virtuais.
Nenhum adulto que passa parece incomodado. Eles não parecem ter interesse em ir para lado nenhum nem sequer se entregarem à paixão. Estão ali, meio abandonados de si próprios, aos seus telemóveis e cigarros eletrónicos…
Não há mãos a descobrir a pele, disfarçadas e furtivas, debaixo das camisolas. Mas há pele exposta, sobretudo nelas - barrigas, pernas, decotes até não poderem tirar mais.
Uma espécie de contas de instagram em 3D : ver, expor, comentar, provocar. Ma não tocar, não arriscar a interação física e emocional com o outro.
Parece-me que o maior perigo das redes sociais não é o tempo que eles passam nelas. É este ser -literalmente - o tempo delas, na vida real.
Vemo-nos mas não nos atrevemos a conhecermo-nos, de perto, pelo sabor, pelo contacto, pelo olhar demorado,
A busca do prazer claro que tem de estar lá! A adolescência saudável é feita disso e custa-me ver que, tão cedo, o associem a uma espécie de envenenamento que anestesia o dia a dia, com nicotina e jogos, em vez de procurarem o antídoto que nos acorda para a vida - o amor, os sentidos.
De auscultadores postos deixam entrar as palavras sem sentido, vomitadas pelo YouTuber do momento, num ritmo frenético, mas não são capazes de se entregar ao ritmo suave da respiração compassada. Falam alto, explícitos demais, por vezes, mas não parecem ter a coragem de expor o coração num sussurro atrevido.😉
Onde falta o amor faltará tudo. Mesmo que fosse naquela expressão exagerada e carnal da adolescência, seria um sinal de vitalidade e esperança no futuro.
Dá vontade de lhes murmurar, quando passo: “envenenem-se com paixão, não com nicotina. Mais toque e menos tik tok.”♡
Com muito mãedfulness,
mariana
Adorei 😊 Felizmente fomos adolescentes numa época bem mais saudável que a actual, e muitas vezes sinto vontade de dar um salto no tempo e voltar pontualmente à escola (sem passar pelo estudo de matérias desinteressantes, claro). Foi também esse sentimento que me fez voltar a jogar ping-pong 🏓 ao final de 20 anos, e fiquei mt feliz por ter reencontrado o amigo que na escola mais praticava comigo. Jogo com ele e com outro amigo 2x por semana - continuo a amar e a divertir-me mto (e iria amar ensinar quem quer que se interesse).
Não chega aparecer a 'nova internet' para a cabeça das pessoas voltar ao lugar... é preciso educar nas escolas, em casa, universidades, e entre amigos... e para isso cá estaremos nós 💙, pois com os media, instituções educativas, e políticos não nos safamos.