Há uma tendência em todos nós - e é compreensível, claro - de achar que um miúdo (um adulto também!) “bem resolvido”, “emocionalmente competente” ou com boa autoestima e é aquele que “domina” na perfeição as suas emoções, sensações, desilusões.
Se não fossemos humanos, talvez. Sendo humanos, essa mestria precisa (como todas!) de muito treino, repetição, processamento, consciência e suporte. É rara nos adultos e é impossível numa criança, num adolescente.😉
O que vemos que nos parece “isso”, arrisco-me a dizer, em noventa por cento dos adultos e em TODAS as crianças, que estão sempre bem, que nunca se portam mal, nunca perdem o pé, o norte, a compostura é algo muito diferente - para não dizer oposto - à saúde mental.
É um “bypass emocional”, é sinal de que não há lugar para as emoções duras, sombrias, que simplesmente não se permitem a senti-las, a processá-las, a mostrá-las, muitas vezes, nem a si próprios. E isso de “parecer sempre bem” não tem nada a ver com boa auto-estima e saúde emocional - é, antes, o corredor mais rápido para surgirem, dentro de nós, quartos escuros de sofrimento.
Não estou a dizer que se devam ignorar comportamentos constantes que denotam sofrimento interno (curiosamente, mais bem aceites por vezes pela sociedade), como estar sempre ligado a jogos electrónicos ou redes sociais, ter atitudes violentas e agressivas na escola, não ter curiosidade em aprender, não partilhar nada do seu dia com a família, não ter um gosto por algum desporto ou arte - isto sim, deve fazer-nos ligar o “sistema de alerta”.🚨
E, claro que há diferenças de feitios entre as nossas crianças e entre os adultos - uns de nós parecem mais predispostos à alegria e a descomplicar, outros são de temperamento mais pesado, mais intenso; não digo que não haja crianças mais fáceis e outros mais “difíceis”, e que esses que vão mais leves pela vida tenham algum “problema”, lógico que não!
Mas todos nós - e as crianças e os adolescentes, então! - teremos momentos de desilusão, desamparo, nervos, frustração, irritação, solidão, medo, e conseguirmos sentir estás emoções faz parte de ter um “bom sistema emocional”.disfarçar o que se sente pode trazer tranquilidade a quem nos rodeia mas são os antípodas de inteligência emocional!
Saúde mental e auto-estima não têm nada a ver com nunca passar por desafios, não se ir abaixo, não fazer birras ou portar-se mal.
Pelo contrário, um primeiro sinal de que as nossas crianças estão a desenvolver-se de forma saudável [sem quartos escuros cada vez mais impossíveis de serem visitados, dentro de si] é isto ter lugar nos seus dias, na sua vida e, de preferência e sobretudo, mostrar-se junto de quem mais amam.
Não termos de fingir o que estamos a sentir ou quem somos, num dado momento, perante as pessoas que mais importam e nos seguram, na vida, é o primeiro passo para desenvolvermos boas autoestimas e força mental, pela vida fora.
É fácil cairmos nesta armadilha, até porque ter crianças “bem comportadas”(leia-se que não exprimem as emoções desagradáveis ou muito fortes que sentem) dá muito mais jeito e menos consumições.
Por isso, quero dizer-te: se tens dias duros, torrentes de sentimentos fortes despejados junto com a mochila da escola, aí mesmo nos teus braços ou naquele jantar com amigos, ou no almoço de família, eu sei que é muito difícil, mas sempre que conseguires não ouças as vozes que não importam, não vejas os olhares de reprovação, não te deixes ir com a energia tensa que fica.
Sustenta, responde com amor ou, pelo menos, sem crítica ou reatividade. Está lá para eles. Conversa, quando for possível, sobre possibilidades, histórias pessoais, pergunta muito e ampara as emoções sem as querer calar, resolver ou desmerecer. Mostra que haverá forma de as coisas melhorarem, juntos vão descobrir.É assim que vão, devagar e pela vida, perceber que conseguem lidar com as emoções, de forma saudável.
Porque fazer isto é, por vezes, “sobre-humano”, tudo o que não precisas é de alimentar, a seguir, os sentimentos de que estás a fazer algo mal, de que o teu filho tem um problema ou está errado. Garanto-te, não está. Estás a fazer bem.
Mãe-maravilha, pai-herói : todos os que permitem que os seus filhos sejam bem menos do que perfeitos.
Com ❤︎, mariana
es verdad!