Começamos o ano com avisos laranja e vermelho de mau tempo e intempéries.
Aqui, nada de mais se verificou tirando a chuva, vento e trovoadas que fazem parte dos Invernos desde que nos lembramos.
Estaremos a ficar uns medricas, assustadiços? Vivemos em alertas quase permanentes há três anos, e quem somos nós, depois disso? Mesmo que nenhumas tragédias se tenham verificado ou conseguido evitar, afinal?
Percebo o principio da precaução, mas não sei se concordo com o fim a que ele nos leva…
Tive de sair já ao final da tarde, desse último dia do ano, havia um céu de chumbo por cima de mim e umas rajadas de vento ocasionais, é certo. Mas preparei-me, não para o que estava a acontecer, mas para o que poderia vir aí: vesti o meu casaco mais quente, as botas mais altas, o guarda-chuva as luvas e um gorro na cabeça. Um exagero porque vinha aí a tempestade!
Sei que me vão dizer: “mais vale prevenir”, “a mais nunca é de demais”, mas discordo.
Porque basta o aviso para o teu corpo e mente se pôr em alerta. Basta conseguires imaginar o perigo para passares a sentir, como se fosse real.
O principio da precaução não é isento de danos colaterais - sobretudo no nosso estado mental e emocional. E o nosso estado de espírito dita o tom da nossa saúde, muitas vezes, e da nossa força para lidar com as dificuldades que apareçam. Se o enfraquecem, constantemente, vamos estar afinal menos bem preparados quando realmente… for preciso! Que paradoxo, ou devemos dizer, que bela armadilha!?
E faremos nós próprios isto, a toda a hora, nas pequenas ou grandes catástrofes, dificuldades, que antecipamos, imaginamos que podem vir a acontecer, na nossa vida ou na dos nossos filhos, incutindo stress desnecessário que nos adoece, um estado de alerta que nos tira capacidades essenciais para lidar bem com os desafios do dia a dia?
Talvez precisemos de (ser) melhores especialistas e analistas, de ter uma visão mais real e confiante da vida, olhar mais para o que temos agora, a acontecer, a nossa frente, e viver de acordo com isso.
Claro que importa, sobretudo em tempos tranquilos, reforçar valores estruturais, intenções de base e práticas saudáveis, que nos sustentem nas crises, tempos difíceis ou nos imprevistos e criar espaço para poder ajustar conforme as circunstâncias mas, ao mesmo tempo, conseguir relaxar, acreditar e (re)construir, cada dia, com fé e dedicação , mas sem medo de viver a vida boa e serena que está mesmo aqui à nossa disposição, se nos recusarmos a viver num estado de alerta permanente.
um feliz [ e destemido ] 2023,
Mariana
Adoro a forma como escreves e te exprimes. Obrigado pela possibilidade de te ler. Um bom ano...