A maioria das crianças ou adolescentes “problemáticas” ou difíceis, ou a passar por um período “complicado”, não tem nada de problemático. São apenas miúdos reguilas, espertos, com vontade própria, com gostos, com medos e sonhos, com alegria e vida dentro deles.
E os pais, não têm nada de errado com eles , nem fizeram nada de mal. São, como eu e todos, acho eu , pais e mães cansados, cheios de amor para dar, a fazer o melhor que podem, exaustos mesmo alguns dias, agradecidos outros, sozinhos às vezes, a decidir mil coisas, com falta de tempo para si, mães e pais que cuidam, que às vezes gritam, ameaçam, outras mimam, alimentam, e não sabem o que fazer a tantas inquietações, à vida que nos atropela, ao tempo que passa depressa demais.
Só queria dizer-vos: esqueçam as recompensas, as ameaças, os castigos e os prémios - as relações não se fazem disso e é isso que EDUCAR é: ensinar o que é um relacionamento (entre pessoas, consigo próprios, com o resto do mundo).
E é quase sempre sobre isto que os nossos filhos complicados nos estão a falar, com muita sabedoria: “Olha para mim sem ser para me corrigir, Mãe. Gostas de mim como eu sou? Permites que eu cresça a ter a minha opinião, o meu espaço como pessoa, aqui em casa? Dás-me o respeito que achas que te faltou? Conversas comigo sobre como eu me sinto? Porque tem a vida de ser tão séria e dura? Não me abandonas nos momentos escuros da vida?”
Eles só querem saber como se faz, como se vive, como se lida com a dor, o desconforto e estão a mostrar-nos que querem da vida a Alegria, não o sacrificio, que são fortes, e não vítima das circunstâncias ou do que o mundo diz que é certo. que querem conhecer os seus pais, de verdade, os homens e mulheres que são, que foram, em que acreditam, que sonhos deixaram para trás. Querem a verdade , a transparência - da vida e dos pais.
Parte dos problemas desaparece quando lhes damos o espaço para serem quem são, quando os tratamos com respeito, dizemos por favor e obrigada e ajudamos, dentro do possível - e dos valores maiores que temos- que os seus dias de infância sejam felizes, quando lhes perguntamos “ como serve melhor para ti?” a cada obrigação ou rotina, quando os deixamos decidir mais, quando colocamos os limites – aqueles que são benéficos para a saúde , o bem estar, o saudável desenvolvimento deles – com firmeza, muito amor e paciência. É só disto que as crianças precisam e é esta a receita que as tornará adultos mais pacíficos, seguros de si.
Mais cedo do que tarde, deixá-los tomar as rédeas de algumas responsabilidades, de sentirem que o seu percurso é seu e para o seu bem ( não o nosso!), envolvê-los nas decisões familiares, deixá-los ter impacto em nós, levar a sério o que pensam do mundo , de si e até de nós. Validar as suas ideias, sentimentos e pensamentos. É assim que as crianças se transformam em adultos com responsabilidade e auto-estima.
Não vale rotular, castigar ou ameaçar– vale pensar que nos devemos relacionar com eles como gostamos que se relacionem connosco. E não esperar que tudo mude como por milagre – confiar que as crianças, os adolescentes, são seres em desenvolvimento, não pequenos adultos em miniatura.
Também não vale retire amor, retirar Presença, carinho, sobretudo quando é preciso ir contra o seu desejo, a sua vontade ou o seu comportamento. Todo o comportamento tem uma necessidade para ser satisfeita por trás – o que nos estão a querer dizer [ de maneira pouco agradável, talvez ] os nossos filhos perfeitos?
Do que precisam?
Um profissional, um amigo, um psicólogo, podem ajudar , podem ser parte da solução mas é em cada pai e mãe, e nesse conhecimento e conexão profunda que tem com cada filho, que reside a resposta a estas perguntas e o “final feliz” das fases difíceis por que todos passamos.♡
A acordar todos os dias para o caminho do amor, o único que nos pode salvar. ❤️
Maravilhoso texto, Mariana! Acredito piamente nesse caminho. Demorei alguns anos a perceber que era esse caminho que tinha de trilhar, para que fosse mais suave, para que a vida fosse mais amorosa. Grata, por também tu, sem saberes, teres contribuído para essa consciência.