Por aqui, a adolescência, que entrou primeiro tão discreta, já se instalou sem cerimónia , em todo o seu espectro, na nuance masculina da coisa sobre a qual tenho poucas referências pessoais.
Encontra-se, muitas vezes, com os dias menos bons da minha perimenopausa que também reclama, com a sua voz muito própria, para ser ouvida.
Tenho dias que penso: o que nos aconteceu, como mãe e filho?
Tenho outros que sei, são as hormonas inquietas e em mudança de um e de outro, somos mais biologia do que queremos aceitar.
Tanto trabalho pessoal… Tantas horas de dedicação e intimidade, uma viagem tão bonita, ainda que com os seus “poços de ar “ aqui e ali, bonita e profunda, para agora aterramos … “nisto”?
Temos dias que nem o coaching, nem a PNL, nem o mindfulness nos salvam - sai tudo errado, o conflito estala à mínima contrariedade e damos um passo para longe um do outro, que a mim me dói e a ele parece aliviar.
Só me salva essa apropriação que fiz, imperfeita e sempre em construção, a que vira o foco para mim , num abraço de amor, esse mãedfulness inventado pelo meu coração.
Sossegar. Está tudo bem. Desligar os pensamentos que me (pre) ocupam e voltar ao aqui e agora. Ao que é, sem resistir.
Porque o pior que pode acontecer é eu deixar de ver o rapaz crescido, o jovem rapaz, que tenho à minha frente. Quem ele é, com os seus desafios, medos e visão das coisas. Não quer ser “gerido”, não está receptivo aos meus ensinamentos, às minhas ideias sobre a vida dele ou até mesmo sobre a vida em geral. Tudo certo. Pensamento próprio e segurança suficiente no meu amor para não ter de me agradar atestam o bom trabalho até aqui (ainda que sem recompensa imediata).
Retorno à humildade que me diz que nunca se tem as peças todas , que estou sempre a aprender a ser mãe, agora de um adolescente.
Retorno à autenticidade e à vulnerabilidade, não lembrando a adolescente que eu fui ou o filho que ele era mas forçando-me a pensar em nós como duas pessoas que só querem estar bem, no meio da turbulência que as assola , a tentar sobreviver às vezes, a querer ser muito felizes, outras.
Vou ter que dizer sem medo que tenho saudades do que já fomos, dos melhores amigos que éramos. De nunca nos faltarmos um ao outro, durante muitos dias, nas partilhas da histórias, das emoções, da vida.
Tenho saudades das nossas boas conversas, nos silêncios que se fazem sentir cada vez mais e tenho, sim, tenho saudades de quando nem de palavras precisávamos , ele cabia todo no meu colo e um abraço bastava.
É o nosso tesouro mais bem guardado, essa infância bem vivida. Mas a aventura agora é outra. A dele e a minha - por outros percursos, e com outras companhias.
Talvez, agora, o nosso ponto de encontro seja mais nos “aeroportos” da alma, nas paragens breves mas necessárias e retemperadoras dos novos caminhos que ambos, em separado, temos para fazer.
Vou ter de fazer um upgrade desta relação de quase adulto para adulto. Ele não me vai facilitar o caminho, nunca o fez. E foi graças a isso que fui chegando sempre a sítios surprendeentes e melhores, dentro de mim e na nossa relação.
Uma família, a educação, uma relação, o amor e a vida são sistemas muito complexos. Mas desde que nós não compliquemos, sistemas complexos resolvem-se com ações simples.
Talvez esteja na hora de voltar, em silêncio, aos abraços-❥.