O meu manifesto: sou contra o uso do parâmetro da velocidade de leitura no ensino.
Odeio essa métrica das palavras por minuto e arrepio-me só de pensar nas palavras ler e cronómetro na mesma frase! Muito menos no início do processo, onde a descoberta da maravilha e o encantamento têm de estar presentes para prender a atenção e o gosto.
Qualquer bom professor - como qualquer dedicado leitor - sabe, se refletir um pouco, que quanto mais amamos ler e somos bons leitores mais… devagar lemos!
Lá por algo ser fácil de medir não quer dizer que deva ser medido.
Quanto mais gostas de ler, quanto mais profundamente entendes e queres entender, ou te deleitas num texto bem escrito, mais devagar lês!
Não quero com isto dizer que um bom leitor não consegue ler depressa ou que não é rápido a ler mas isso é algo que consegue porque passa muitas horas a praticar a leitura, não porque se focou em ler depressa. E para que as nossas crianças atinjam, alguma vez, o número de horas que lhes permite ler rápido e bem, têm de ler muito e para isso têm, antes de mais… de gostar de ler!
Por isso, talvez abra um manifesto para que a velocidade de leitura seja tida em conta sim, mas virada de pernas para o ar : GANHA QUEM CONSEGUE LER BEM DEVAGAR.
Tem boa nota, quem conseguir ler saboreando cada palavra, quem conseguir ler permitindo os silêncios onde se descobrem as várias camadas de significado que cada palavra encerra.
É digno de aplauso quem conseguir ler sentindo cada som com todo o palato, quem disser as letras, os fonemas usando todo o seu ser, como se de uma prova gourmet se tratasse.
Ganha o quadro de mérito quem conseguir ler imerso de tal forma na história que pare para rir, no meio daquela lenga-lenga tonta, que precise ganhar fôlego naquele verso que trespassa o coração, que fique sem ar ao se deparar com um perigo inesperado no meio de um parágrafo assustador, que antes da palavra fim, faça uma pausa ao suspirar de alívio, no e foram felizes para sempre. Ponto final.
Ou não… porque o que importa mesmo não é o quão depressa acabou mas que queira recomeçar - a mesma ou outra história!
O que importa não é em quanto tempo se chega ao fim, mas o que se ganhou no processo e , na verdade, é muito bom sinal não querer acabar. Querer ler sempre e ter prazer ao fazê-lo. E nada que não se faça devagar vale a pena ser feito.
Há que recuperar o valor da leitura para termos mais e melhores leitores mas isso não se faz às custas de querer que leiam muitas palavras por minuto: para esse frenesim usam as redes sociais, as mensagens de texto e o WhatsApp e como o fazem bem!
Ler é outra coisa, é outro campeonato. Mas se o reduzem a um simples, básico e robótico método para ter bons resultados na escola estão a apontar no sentido errado.
Mudem de sentido e, sobretudo, abrandem. Deixem lá as palavras por minuto e concentrem-se nas emoções por minuto, e na leitura lenta e vagarosa, que nos transforma, aquieta e torna melhores seres humanos.
Vão ver como todos ganhamos no longo curso. Bons resultados na escola incluídos.
com amor, Mariana ❥✘