Para educares bem as tuas crianças basta permitires que confiem no seu corpo, deixares que o seu corpo fale por si, que o mental, fisico e emocional seja só um, íntegro e bem oleado, em sintonia e sem partes silenciadas ou conflituantes.
Permitir que os nossos filhos confiem nos seus corpos, cérebros, emoções, pensamentos, sensações, humores, que os expressem, ainda que por vezes sobre a forma de desejos ou vontades inadequadas ou impossíveis de satisfazer, é a pedra angular da tão valorizada auto-confiança. Confiar no nosso equipamento de base é confiar em nós próprios, ponto.
Mas deixar que este processo aconteça não é fazer com que este processo aconteça.
Explico: este caminho não tem nada a ver com aplausos e vivas seja nas primeiras tentativas de caminhar, andar de bicicleta ou descer o escorrega. Não tem nada a ver com interjeições de reforço positivo (“boa, tu consegues, vai, força”) no parque infantil, na natação ou no futebol. Não tem nada a ver com dar prémios ou recompensas pelas notas dos testes, pelas estrelinhas de bom comportamento, ou pelas medalhas de mérito. Algumas destas estratégias fazem exatamente o oposto: desligam-nos da nossa motivação e autoconhecimento intrínsecos.
Este caminho tem muito mais a ver com permitirmos que o desenvolvimento natural das competências aconteça, com acompanhamento, claro, com a nossa presença mas sem a nossa interferência, o mais possível.
Estar atento não significa sobrepormo-nos, darmos instruções a toda a hora, comandarmos ou controlarmos todas as variáveis e sobretudo emitir, a toda a hora, juízos de valor: “certo , errado, assim, assim não, por ali, cuidado, por aqui, pára, avança.”
Este caminho pode e deve, desde cedo, ser trilhado, nas coisas mais banais do dia a dia: seguir as suas necessidades de descanso e atividade, deixá-los decidir se têm frio, fome ou sede, quanto e quando querem, precisam de comer e sim, o que querem comer ( dentro das nossas escolhas saudáveis, claro, que devem servir para eles como para nós e para toda a família!).
Deixá-los escolher a roupa, o desporto ou as atividades que querem fazer ou deixar, deixá-los explorar em liberdade o seu corpo, o meio físico e social que os rodeia, deixá-los ter opinião, colocar os seus limites ou expressar as suas emoções.
Não desvalorizar nem dramatizar uma ferida, seja física ou emocional, sendo amparo mas confiando no seu próprio processo de cura. Encontrar os melhores contextos, conforme a idade e atividade, para os deixar explorar livremente as suas capacidades físicas e motoras, preferencialmente sem barreiras artificiais e na natureza. Deixá-los brincar, aprender a andar e a desenvolver competências sem sermos sempre os juízes avaliadores ou a plateia de fãs, que tanto aplaude vitórias como se desilude nas derrotas.
As crianças não precisam do julgamento externo para evitarem perigos ou para ganharem confiança e avançarem. Só precisam de sentir que quem as cuida valida a sua própria sabedoria interna.